Realizar um exame de abdome total é, de certo modo, como seguir uma trilha cheia de detalhes. Com cada etapa bem feita, a imagem do paciente se revela de modo mais claro e confiável, algo que o Instituto Avance busca ensinar na prática em cada um de seus cursos e treinamentos. Falar de ultrassonografia é mergulhar em um universo em que a técnica faz toda diferença, principalmente no exame de abdome total – um dos mais solicitados em medicina diagnóstica.
Respiração controlada: o primeiro passo essencial
Logo no início, oriento o paciente. Ele deve permanecer deitado em decúbito dorsal e seguir instruções de respiração. Essa respiração controlada, com pequenas apneias, muitas vezes faz toda a diferença para visualizar órgãos como fígado e pâncreas. Um bom exame começa aqui: inspiração profunda, respira e... segura por alguns segundos.
Segure o ar, foque nas imagens.
Fígado: mapeando cada plano
Para iniciar o rastreamento, o transdutor é posicionado abaixo do rebordo costal direito. A busca se faz nos planos longitudinal, transversal e às vezes oblíquo. Cada movimento do transdutor revela detalhes do parênquima hepático: sua textura, possíveis lesões, líquido livre e anomalias vasculares. Não basta apenas olhar, é preciso procurar o inesperado.
- No eixo longitudinal: avalie o contorno, o desenho da cápsula e, claro, a relação com as costelas.
- No eixo transversal: observe a ecogenicidade e procure focos hiperecogênicos ou hipoecogênicos. O normal gira em torno de 13 a 15 cm no maior diâmetro.
A recomendação do Colégio Brasileiro de Radiologia valoriza a padronização dessas medições para garantir precisão – um cuidado que repassamos sempre no Instituto Avance.
Pâncreas: detalhes que fazem diferença
O pâncreas aparece logo atrás do estômago e do fígado, e examinar cada uma de suas partes – cabeça, corpo e cauda – requer paciência. Pequenas variações na posição do transdutor, ou mesmo no grau de pressão sobre a parede abdominal, podem mudar muito a visibilidade.
- A cabeça se esconde junto ao duodeno.
- O corpo se estende atrás do estômago, bem próximo à veia porta.
- A cauda pode estar encoberta por alças intestinais.
Quando se muda de posição – por exemplo, pedindo para o paciente virar levemente de lado – as imagens podem se tornar mais nítidas. Até um pequeno gole d’água ajuda a deslocar o estômago, abrindo caminho para visualizar melhor o pâncreas.
Veia porta e sua importância
Identificar a veia porta não é apenas parte da rotina, é algo que pode apontar alterações vasculares importantes. Ela passa próxima ao hilo hepático, e muitas doenças do fígado alteram seu calibre ou seu padrão de fluxo. O estudo do fluxo com Doppler, por exemplo, pode apontar tromboses ou hipertensão portal, o que ganha destaque em publicações sobre avaliação vascular.
Ver a veia porta é enxergar o coração do fígado.
Estômago, retroperitônio e aorta
Ao rastrear o abdome, não dá para ignorar o estômago, que serve como referência em relação ao fígado e pâncreas. Mudanças no conteúdo gástrico mudam as janelas acústicas disponíveis.
No retroperitônio, buscamos a aorta e, muitas vezes, a veia cava inferior. O calibre da aorta abdominal em adultos jovens costuma ficar de 1,5 a 2,0 cm. Dilatações sugerem aneurisma; placas podem sugerir arteriopatia. Patologias retroperitoneais alteram o contorno desses vasos, então, sempre observe atentamente essa região, afinal, algumas alterações só aparecem assim, no detalhe do movimento do transdutor.
Vesícula biliar: calcificações e detalhes
Na avaliação da vesícula, o objetivo é procurar por pólipos ou cálculos (pedras). Para uma análise confiável, é importante usar os dois planos:
- Transversal para avaliar estrutura e conteúdo.
- Longitudinal para medir tamanho e observar espessamento da parede.
Como costuma acontecer, mudar a posição do paciente – colocando-o em decúbito lateral direito – pode deslocar o conteúdo da vesícula, facilitando a visualização de pequenos cálculos, que podem ser móveis.
Rins: desafios e adaptações
Os rins, localizados nas fossas lombares, podem ser difíceis de ver por causa de gases intestinais ou articulações ósseas que atrapalham a passagem do som. Na prática, é comum pedir que o paciente vire de lado ou fique em decúbito lateral, ajustando a janela de visualização.
Procure examinar:
- Espessura cortical
- Parênquima e seio renal
- Presença de cálculos ou dilatações
As dimensões dos rins em adultos jovens geralmente variam entre 9 e 12 cm no eixo longitudinal. Se possível, avalie também o fluxo renal, caso haja suspeita clínica.
Bexiga, ovários e ajustes de posição
A avaliação da bexiga se faz com o paciente em decúbito dorsal, e a estrutura se apresenta melhor preenchida. Já para visualizar ovários, é preciso uma variação de planos, procurando identificar a textura, volume e eventuais cistos ou massas.
Às vezes, mudar a posição do paciente muda tudo.
O exame de ovários pode ser complementado pela via transvaginal, mas, num exame abdominal total, o objetivo principal é confirmar localização e avaliação básica.
Fossas ilíacas, flancos e detalhes que não podem faltar
Fossas ilíacas e flancos, à primeira vista, parecem áreas “neutras”. Mas nelas residem possíveis apêndices inflamados, abscessos, pequenas coleções líquidas e, às vezes, lesões de alças intestinais escondidas. Por isso, recomendo passar o transdutor com atenção, principalmente quando há suspeita clínica direcionada.
Uma boa prática, como ensinamos no Instituto Avance, é fazer movimentos lentos, alternando planos, buscando sempre por imagens que fujam do padrão esperado.
Conclusão
O exame de abdome total, se bem realizado, oferece um panorama fiel dos principais órgãos e estruturas abdominais. Cada órgão carrega sua própria forma de aparecer na tela, e a qualidade das imagens depende tanto da técnica quanto da paciência do examinador. É nesse cuidado, no detalhamento das etapas, que está a diferença entre um exame comum e um diagnóstico de confiança. Se desejar aprender mais sobre as nuances e os segredos da ultrassonografia abdominal, ou se quer se sentir mais seguro ao conduzir exames assim, conheça mais sobre os cursos e conteúdos do Instituto Avance. Uma boa formação faz toda diferença para o profissional de saúde!
Perguntas frequentes
O que é exame de abdome total?
O exame de abdome total é um estudo por ultrassonografia que avalia todos os órgãos do abdome, como fígado, vesícula, rins, pâncreas, baço, bexiga e, dependendo da técnica e paciente, ovários e demais estruturas. É um exame não invasivo, seguro, rápido e amplamente utilizado para rastreamento e avaliação de sintomas abdominais.
Para que serve o exame de abdome total?
Ele serve para ajudar a identificar causas de dor abdominal, investigar alterações laboratoriais, pesquisar tumores, infecções, cálculos em órgãos como rins e vesícula, além de monitorar doenças crônicas e detectar alterações vasculares. É também parte fundamental em check-ups na rotina clínica.
Como é feito o exame de abdome total?
O exame é feito com o paciente deitado na maca, geralmente em jejum de 6 a 8 horas. O médico passa gel condutor sobre a pele e utiliza um transdutor para captar imagens dos órgãos por diferentes planos. Em alguns casos, pode ser necessário mudar a posição do paciente ou pedir para prender a respiração. Todo o processo dura, em média, entre 20 e 30 minutos.
Quanto custa um exame de abdome total?
O valor do exame pode variar bastante conforme a localização, a rede de saúde e o tipo de serviço (público ou particular). Em clínicas particulares, geralmente varia entre R$ 150 a R$ 400, dependendo da abrangência do exame e se incluem avaliações extras, como Doppler.
É necessário jejum para o exame de abdome?
Sim, normalmente é solicitado jejum de 6 a 8 horas antes do exame. Isso reduz a quantidade de gás no estômago e no intestino, o que facilita a visualização dos órgãos. Em alguns casos, pode-se indicar ingestão de água para melhor avaliação da bexiga.
